segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O “Romanceiro da Inconfidência” é uma das obras literárias mais famosas sobre a Inconfidência Mineira. Escrito por Cecília Meireles, foi publicado em 1953. Em uma viagem à Ouro Preto, Cecília se envolveu com a história da Inconfidência, passando a escrever de forma poética sobre episódios marcantes.

O Romanceiro é formado por um conjunto de romances, poemas curtos de caráter narrativo, e histórias que permaneceram na memória da população.

A autora recria a atmosfera da Vila Rica (hoje Ouro Preto), como a mineração, as rivalidades, os altos impostos cobrados pela Coroa, a conscientização de alguns intelectuais, as ideais de liberdade, as prisões dos envolvidos, e as punições finais. Assim, cada elemento histórico adquire um valor simbólico.

Abaixo, trechos da obra:

Romance LXXIII ou Da Inconformada Marília

“Pungia a Marília, a bela,
negro sonho atormentado:
voava seu corpo longe,
longe por alheio prado.
Procurava o amor perdido,
a antiga fala do amado.
Mas o oráculo dos sonhos
dizia a seu corpo alado:
“Ah, volta, volta, Marília,
tira-te desse cuidado,
que teu pastor não se lembra
de nenhum tempo passado...”
E ela, dormindo, gemia:
“Só se estivesse alienado!”

Entre lágrimas se erguia
seu claro rosto acordado.
Volvia os olhos em roda,
e logo, de cada lado,
piedosas vozes discretas
davam-lhe o mesmo recado:
“Não chores tanto, Marília,
por esse amor acabado:
que esperavas que fizesse
o teu pastor desgraçado,
tão distante, tão sozinho,
em tão lamentoso estado?”
A bela, porém, gemia:
“Só se estivesse alienado!”
(...)”

A fala dos Inconfidentes

“Treva da noite, Parada noite,
lanosa capa suspensa em bruma
nos ombros curvos não, não se avistam
dos altos montes os fundos leitos...
aglomerados... Mas, no horizonte
Agora, tudo do que é memória
jaz em silencio: da eternidade,
amor, inveja, referve o embate
ódio, inocência, de antigas horas,
no imenso tempo de antigos fatos,
se estão lavando... de homens antigos.
Grosso cascalho
da humana vida... E aqui ficamos
Negros orgulhos, todos contritos,

ingênua audácia, a ouvir na névoa
e fingimentos o desconforme,
e covardias submerso curso
[e covardias!] dessa torrente
vão dando voltas do purgatório...
no imenso tempo, Quais os que tombam,
- a água implacável em crime exaustos,
do tempo imenso, quais os que sobem,
rodando soltos, purificados?
com sua rude
miséria exposta...”


Para quem ficou interessado em saber mais sobre essa obra, acesse

Por: Paloma Margaritelli

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